Tornar-se pais – para muitos – é uma das experiências mais incríveis do mundo: ela traz amor, ternura, leva você muitas vezes a dar o seu melhor, buscar sua melhor versão, encontrar forças que sequer imaginava que existiam… mas também tem outro lado: é cansativo, desgastante e às vezes frustrante. O que está claro é que a maternidade e paternidade muda as pessoas, e não apenas individualmente, mas também muda o relacionamento como casal.
Agora não é mais “vida a dois”, é vida a três; e o terceiro é o bebê, um pequeno ser que precisa de cuidados e atenção 24 horas. E como fica o casal? Tornar-se pais sempre afeta negativamente nosso relacionamento? É possível sobreviver?
Um estudo realizado nos Estados Unidos em 2017 apontou que 66% dos casais relataram que a qualidade da relação piorou nos três primeiros anos a partir do nascimento do primeiro filho; e 25% dos casamentos terminam em divórcio até o quinto ano da criança.
Realmente, é um tremendo desafio, mas que pode ser superado e, inclusive, nos tornar pessoas melhores e também melhorar a relação.
São inúmeras mudanças, vamos começar com um ponto básico: uma das questões que devemos aceitar é que as coisas vão mudar. Para o bem ou para o mal? Bom, depende, entre outras coisas, de como cada um vai lidar com isso. Quais são as principais mudanças que aparecem quando se passa de dois para três?
Quais são as funções de cada um? Todos nós exercemos vários papéis na vida que ativamos ou desativamos dependendo do momento ou da pessoa com quem estamos. Não é que a gente muda a nossa personalidade, nos adaptamos às condições dependendo do momento. Você não se comporta da mesma forma quando está sozinho com seus pais como quando está com o seus de amigos, entende?
Até agora você foi mulher, trabalhadora, filha, amiga, esposa… homem, trabalhador, filho, irmão, amigo… Com a chegada do bebê surge um novo papel, o de mãe e pai.
Mas e aí, como isso pode vir a ser um problema?
Nesse novo papel, que é tão intenso, que tanto demanda, anula ou desloca os outros, criando um desencontro em cada um. A maternidade / paternidade às vezes é tão intensa que fica difícil dar aos outros papéis, a atenção que eles precisam. O resultado é que, se o papel de casal for deixado de lado, o relacionamento será prejudicado.
Disponibilidade de tempo zero
Isso é uma das primeiras coisas que todo mundo avisa quando você dá a notícia de que terá um bebê, e é uma das maiores verdades da maternidade / paternidade: você não terá tempo para quase nada nos primeiros meses. Seu bebê precisa de você, é necessário trocar suas fraldas, alimentá-lo, dar banho e amá-lo e se sobrar um tempo, você dorme.
Em meio a tudo isso e muito mais, fica difícil encontrar tempo para jantares românticos, para assistir filmes juntos no sofá ou para ter um pouco de privacidade. E claro, se não existir tempo para o casal, a relação pode sofrer, pois o amor não é algo eterno e incorruptível, algo que vai durar para sempre mesmo que a gente não cuide dele, não. Manter o amor e o relacionamento, demanda investimento, tempo e atenção.
“O bebê ficará bem?” “O que você precisa agora?” “Por qual motivo ele chora?” “Precisamos comprar tal coisa para o bebê…” Tempo, dinheiro, energia. Tudo vai girando em torno dele.
Como eu disse, as pessoas são mais do que um papel específico, e precisamos dessa variedade para estar bem emocionalmente. Uma das coisas que geralmente percebo nas sessões de terapia é que a chegada de um bebê pode fazer com que as prioridades do casal mudem e às vezes elas não mudam da mesma forma para ambos.
Ok, o bebê geralmente está em primeiro lugar, mas há algo mais na lista ou eliminamos tudo? Onde está o casal, onde está a necessidade individual de tempo?
Cansaço
Se há fatores físicos que podem influenciar a maneira como nos relacionamos como casal, certamente os principais na fase da chegada do bebê são (a falta de) sono e descanso. Algumas das consequências do cansaço extremo são: irritabilidade, menor tolerância ao comportamento do outro, pouca flexibilidade, etc. Esses sinais costumam acompanhar os primeiros estágios da maternidade e paternidade. A privação de sono também costuma ser desesperadora para algumas pessoas, podendo levar a casos de ansiedade ou mesmo quadros depressivos.
Uma das demandas mais frequentes nas sessões por ocasião dos casais com filhos pequenos é justamente a mudança (para eles para pior) em sua vida sexual: menos quantidade e, em muitos casos, menos qualidade.
Por que isso pode acontecer? Pelo somatório de tudo o que disse antes: mudança de prioridades, falta de tempo, cansaço … Mas, então, a chegada de um filho traz com ela o fim da vida sexual? Não, certamente não, como explicar a chegada de outros filhos? O fato é que é necessário trabalhar para que os momentos de intimidade do casal existam, não deixando lá no final da lista de prioridades.
Sexo é mais do que prazer físico, é intimidade, é tempo para o casal, por isso é importante cuidar disso.
Calma, nem tudo é ruim…
Embora seja cansativa, a maternidade e paternidade também traz (muitas) mudanças positivas, tanto individualmente quanto em casal: uma união mais fortalecida, maior empenho, pois agora ambos são co-responsáveis por uma criança, que é uma responsabilidade compartilhada que os faz desenvolver projetos de longo prazo, que aumenta o compromisso estabelecido entre ambos, e pode trazer mais amor. Se você está prestes a se tornar mãe ou pai, prepare-se para as mudanças, mas entenda que por mais que as pessoas te digam o pior do pior, sim, será difícil para o casal, mas também poderá ser maravilhoso. Se vocês trabalharem juntos, formarem uma equipe e buscar ajuda quando necessário, a experiência será absolutamente enriquecedora para o casal.