Meu nome é Vinícius Pinheiro. Sou terapeuta clínico, psicólogo em formação, orientador de carreira. Tenho a convicção de que auxiliar as pessoas a evoluírem e a se desenvolverem é a minha melhor forma de contribuir para a sociedade. Um aspecto meu de que me orgulho de ter é a clareza para fazer com que os pacientes e clientes expressem seus pensamentos e emoções e, assim, tenham mais autoconhecimento, bem-estar psíquico e qualidade de vida.
Este é o meu primeiro artigo escrito para o Humannia. Aos poucos vocês irão ter contato com uma parte da minha visão de mundo, e que, espero eu, contribua para a sua.
Sabemos que o ser humano é multifacetado, desempenha vários papéis. E o olhar da psicologia não é somente sobre o “psi”, pensamentos e sentimentos, mas também sobre o biológico e, muito importante, as influências sociais a que estamos sujeitos. Parece óbvio, já que somos seres que precisamos uns dos outros para viver, mas precisamos entender bem tais influências e o impacto que trazem sobre cada indivíduo.
Dentre as inteirações sociais, uma que é muito significante é o aspecto profissional. Ter um sustento, sentir-se útil para a sociedade ocorre, às vezes, por meio de uma profissão. Uma parte considerável das horas do nosso dia são dedicadas ao trabalho.
E quando as coisas não estão tão bem no serviço? Como isso repercute na nossa saúde física e mental? O quanto não estar razoavelmente bem no trabalho impacta na nossa psiquê?
Os sintomas psicossomáticos são sensações trazidas ao físico através do emocional de uma pessoa, ou seja, o corpo passa a apresentar diversos sintomas físicos sem, no entanto, uma causa patológica específica, pois estes sintomas são consequências de esquemas emocionais. A qualidade de vida, quando afetada, é um dos aspectos mais relevantes que influenciam o surgimento da doença psicossomática, pois sem essa indispensável qualidade o homem se torna incapaz de alcançar seus desejos pessoais e profissionais dentro da organização.
Sabe-se que a vivência de situações estressantes altera o equilíbrio do sistema imunológico, podendo, portanto, estar relacionadas às doenças autoimunes, por exemplo.
Contextos de trabalho muito rígidos, como o de telefonistas de telemarketing são altamente adoecedores. Esse tipo de trabalho é baseado em rígidas regras, que impõem seguir à risca o roteiro proposto pela empresa, já que a fidelidade ao prescrito é um dos critérios de avaliação e punição (advertência e até demissão).
Ainda no exemplo do trabalho realizado no telemarketing, temos cobranças por produção relacionadas ao número, qualidade e velocidade dos atendimentos. O não alcance das metas implica em descontos nas comissões e a fiscalização constante dos supervisores configurava-se em uma fonte permanente de tensão, estresse e pressão.
Você pode não ser telefonista, mas a descrição acima lembra o seu trabalho, não é? Pois é, Infelizmente, essa é a dinâmica de muitos serviços e profissões hoje em dia.
Para explicar melhor, vamos criar um personagem fictício com o nome de João, mas a história é baseada em fatos reais. João era atendente de telemarketing e tinha sintomas de dores de cabeça, náuseas e tonturas durante o expediente. Em certas ocasiões chegou a perder a voz, algo que é primordial para um atendente. Quando tirou 30 dias de férias não houve manifestação de nenhum daqueles sintomas. Porém, quando retornou, tudo voltou. Em um determinado dia, João retornou ao trabalho e, ao chegar a sua casa, sentiu-se extremamente cansado, indo deitar-se. Ao acordar, sentiu as pernas fracas e não conseguiu se levantar. Quando a situação se repetiu, em outra ocasião, a família decidiu levá-la ao serviço de saúde. Depois de realizar diversos exames, não foram diagnosticadas causas orgânicas para os sintomas apresentados. João ficou afastado do trabalho por 15 dias para sua recuperação. Apesar disso, seu estado de saúde piorou, tendo perdido também os movimentos do corpo. João iniciou o tratamento com antidepressivos, mas voltou a ficar afastado por 4 meses. Quando regressou ao trabalho, João começou a sentir muitas dores e a apresentar manchas roxas nas pernas, tendo inclusive necrosado alguns dedos dos pés. Foi diagnosticado com lúpus eritematoso sistêmico…é como se estivesse “à flor da pele”.
João foi demitido por justa causa e entrou na justiça contra a empresa. Ficou com algumas sequelas mas consegui outro emprego e está muito satisfeito!
Não havia espaço para João expressar seus sentimentos, ou seja, sua voz era somente para o trabalho. O corpo então “se revoltou”, chegando a ficar mudo em alguns atendimentos. A angústia vivenciada no trabalho entendeu-se para o corpo. A falta de oportunidade para se expressar e para falar sobre o que sentia intensificou os sintomas.
Falar sobre a situação, conseguir entendê-la e assim se expressar e agir são fatores primordiais para o alívio dos sintomas. O quanto você está disposto a entender o seu corpo e entender a si mesmo? Quem sabe não seja a hora de conversar com alguém a respeito?